A agenda vital
John Battle, ex-governador da Virgínia nos anos 50, foi um dos últimos e mais fervorosos defensores da segregação racial nos Estados Unidos. Inspirado por seu avô, Cullen Battle, um herói confederado na Guerra Civil, John era considerado um exemplo de valores sulistas. No entanto, sua carta à então governadora Lindsay Almond em 1959 revelou sua preocupação com a possibilidade de programas de bolsas escolares serem aprovados pela Assembleia. Ele se recusava a aceitar a “mistura” entre estudantes brancos e negros e acreditava que isso atacaria diretamente o problema central: o dinheiro.
A luta pela segregação na educação foi uma das mais difíceis batalhas pelos direitos civis. Ruby Bridges se tornou um símbolo dessa luta ao ser escoltada pela polícia para entrar em uma “escola branca” em 1960. Pessoas como John Battle estavam contra qualquer programa educacional baseado em bolsas escolares, onde estudantes brancos e negros estudariam juntos. Eles não eram contra melhorias nas escolas para estudantes negros; eles apenas não aceitavam a ideia de misturar as raças.
Olhando para os dias atuais, é impressionante como essa triste época da história americana encontra paralelos desconfortáveis com nossa própria história. Uma pesquisa recente chamada Pnad Educação revelou que mais de 10 milhões de jovens entre 14 e 29 anos não conseguiram concluir o ensino médio no Brasil. Dentre eles, 58,3% são homens e 41,7% mulheres; 27,3% são brancos, enquanto 71,7% são negros ou pessoas de raça mista. Essas estatísticas mostram uma assimetria de gênero em favor das mulheres e uma forte assimetria racial em favor dos estudantes brancos.
Essas assimetrias têm raízes na segregação histórica, exclusão econômica e exclusão social. Uma das facetas dessa desigualdade é a qualidade da educação oferecida. Estudantes majoritariamente brancos que frequentam escolas privadas têm um desempenho acadêmico muito melhor do que os estudantes majoritariamente negros e de raça mista que frequentam escolas públicas. Além disso, há uma distribuição desigual dos chamados “bens relacionais”, como amizades, referências e conexões sociais, que impactam significativamente as oportunidades de mobilidade social para os alunos.
Ações concretas
Enquanto algumas medidas têm sido tomadas para melhorar a educação pública no Brasil, como criação de institutos e movimentos e revisão de currículos, a questão da “mistura” ainda é um tabu. Assim como John Battle e seus seguidores nos Estados Unidos não aceitavam o acesso de estudantes negros a escolas brancas, muitos no Brasil resistem à ideia de estudantes de baixa renda terem acesso a escolas consideradas melhores. É necessário estabelecer parcerias com o setor privado e fornecer bolsas para garantir essa igualdade educacional.
Felizmente, o Brasil já possui uma experiência bem-sucedida nessa área com o Programa Universidade para Todos (ProUni), um dos maiores programas de bolsas educacionais do mundo. Esse programa tem custos relativamente baixos e tem demonstrado que os beneficiários das bolsas têm um desempenho acadêmico igual ou até melhor do que os estudantes sem bolsas.
Portanto, é crucial superar os obstáculos e avançar nessa questão com ações concretas. O acesso equitativo à educação é fundamental para diminuir as disparidades existentes e construir uma sociedade mais justa e inclusiva.
Resumo da Notícia |
---|
John Battle, ex-governador da Virgínia, foi defensor da segregação racial nos EUA. |
Luta pela segregação na educação foi uma das batalhas pelos direitos civis. |
No Brasil, mais de 10 milhões de jovens não concluíram o ensino médio. |
Estudantes brancos têm melhor desempenho acadêmico que estudantes negros e de raça mista. |
Acesso equitativo à educação é fundamental para diminuir disparidades sociais. |
Com informações do site VEJA.